Pois é...
Hoje enchi garrafões de cinco litros de água destilada.
Três mil litros de água.
Bolas...
Bater as tampas e colocar rótulos, e colocá-los nas respectivas paletes.
O dia todo nisto.
Não tenho vocação para trabalhar numa fábrica.
Isto é duro...muito duro.
E depois o Sr. Acácio que é o mais velho de lá faz tudo à pressa.
No fim do dia andamos a inventar trabalho...
Sim, porque somos roubados no horário.
Deviamos sair ás cinco e meia, saimos ás sete.
Isto porque somos uma empresa pequena...porque nas grandes respeita-se os horários.
Acho eu.
Mas foi o que me apareceu...
Vou procurando outra coisa, mas até lá tenho de me resignar .
Que sorte a minha!
Ás vezes acho que sou incompreendida.
Os amigos dizem para me vir embora.
Os meus pais dizem para aguentar que isto de empregos está mau.
E eu?
Eu queria estar no Algarve a trabalhar no meu bar.
Ou abrir uma loja minha.
Mas...
Esta palavra danada...
que me lixa sempre...
Não tenho dinheiro para isso.
Logo tenho de aguentar porque aos trinta e oito anos não é fácil arranjar trabalho.
Hoje estive a falar com a Eng. da fábrica e ela própria também passou por todas as fases da produção de material .
Diz que é necessário espírito de sacrifício e gostar do que se faz .
Para mi é tudo novo.
Não entendo muito de rótulos, de garrafas, de enchimento, de matérias primas.
Vamos ver como vai ser...
O trabalho na linha é puxado.
Todo o dia de pé...sempre a abrir
Quase que nem tenho tempo para um chichi.
Sim...sim...temos uma pausa a meio da manhã.
Mas o problema é a tarde....longa.
Tenho um pressentimento que sou mais uma a passar por ali.
Sim.. não sou a primeira nem serei a última...
Espero que Deus me dê uma ajuda na procura de algo melhor.
Já sei que a fábrica de Verão é muito quente, mas de Inverno é frigorifico...
E para quem sofre de má circulação como eu é lixado!
...Enfim...
Já desabafei...
As costas doem-me, não tenho pachorra para nada nem ninguém...
Isto é vida?
É...o que se arranja.